segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Samba chorado

O samba-canção, puro sentimento em música. ou
Dor de cotovelo

Lancemos olhar mais cuidadoso sobre o samba-canção segundo Regina Meirelles, samba-canção foi uma:

“Recriação de compositores ligados ao teatro de revista do Rio de Janeiro e surgiu no decorrer de 1928, ao mesmo tempo em que, no Estácio, compositores de classes mais populares acabavam de fixar o ritmo batucado do samba, que o diferenciava de uma vez por todas do maxixe”

E continua

“Foi Lupiscínio Rodrigues, porém, que radicalizou o gesto passional, causando até certo incômodo à nova geração de músicos, mais letrada. Para dar veracidade ao sentimento amoroso expresso nos textos, o poeta gaúcho compatibilizava-os com amplas melodias carregadas de tensão. Para dar credibilidade e naturalidade a seus conteúdos, o compositor utilizava a ‘figurativização’, formulando verdadeiros relatos ou diálogos facilmente reconhecíveis pelo senso comum”.

E Regina Meirelles segue, analisando a melodia do samba-canção:

“A ampliação da freqüência e da duração valoriza a sonoridade das vogais, tornando a composição mais lenta e contínua. A tensão da emissão mais aguda e prolongada das notas sugere uma vivência introspectiva de um estado de paixão, que já vem relatada na narrativa do texto. A passionalização na canção funciona como um reduto emotivo da intersubjetividade. Em todas as épocas essas expressões individuais amorosas foram registradas pela especificidade tensiva da curva melódica. É o lugar do lírico-amoroso que já foi modinha, samba-canção, bolero, iê-iê-iê romântico, blue e hoje está presente na canção brega”.

Baptista Siqueira destacou as características denunciantes de brasilidade no samba-canção: modulação passageira ao tom da quinta justa inferior, ora membro da frase inicial, ora no terceiro membro da frase do período binário de 16 compassos; intervalos melódicos descendentes, apresentados sucessivamente, caindo além, numa quinta justa, numa sexta inferior ou intervalos correspondentes; repetições temporais, apoggiaturas expressivas, frases decapitadas, com terminações femininas e ausência completa de modulação ao tom da dominante. Quando a modinha passa do tom maior para o tom relativo menor, evita a nota sensível dessa última tonalidade para se ajustar ao uso brasileiro da ambigüidade modal; não raro, encontramos o sentimento anímico descrito em intervalos descendentes entre tônica e dominante, graus mais fortes, atingindo uma cadência melódica que sugere o completo abandono ao poder emotivo: modinhas em modo maior modulando sistematicamente ao tom do segundo grau por meio de modulação passageira.

As primeiras metáforas das melodias do samba-canção derivam das suas letras melancólicas e rasgadas. A partir da fixação de tais argumentos, já se podia direcionar a melodia com intenções mais claras. Estes mesmos conceitos também foram utilizados em outras áreas de nossa música popular.